Na verdade, não seria esta, mas o «Fado Arnauth», que desapareceu do YouTube... Mas este fado de Encantamento (2003) encarna muito bem a personalidade fadista da cantora -- a letra, da sua autoria, é eloquente. O dueto com Mónica Ferraz funciona. Foi com Mafalda Arnauth, até pela carismática presença física (as fotos, em baixo, foram bem escolhidas) que eu despertei para o fado.
Das seis músicas que encontrei no YouTube (faltam cinco deste The Acoustic, de 1993), esta faixa inicial, «The Lone Rhinoceros», impôs-se-me, pela graça e pela melancolia. Notável trabalho da guitarra, a ilustrar a canção. Recordo que Adrian Belew é um excelente guitarrista, cujo trabalho nos King Crimson é reconhecível. O que, como já escrevi, num grupo que tem Robert Fripp como guitarrista principal, não deixa de ser assinalável.
Se só pudesse escolher um música de New Grass (1968), seria mesmo a faixa inicial, tema composto «New Grass / Message From Albert», uma interessantíssima conjugação da improvisação dialogantefree (sax tenor, A.A. / viola baixo, Bill Folwell) com a tonalidade gospel dos sopros -- arranjo de Bert DeCoteaux -- a servir a inquietação mística de Ayler. A sequência funciona.
Este Beck-Ola, do Jeff Beck Group é todo bom; poderia escolher qualquer uma das sete faixas que o compõe. Lançado em 1969, está num dos períodos mais ricos do rock, cheio de experimentalismo e fusão, hard rock, prog rock, jazz rock, blues rock, psicadelismo e por aí fora. Acabo por escolher este sensacional cover de Elvis Presley, trabalhada e potenciada coma criatividade que o melhor rock não dispensa e a víscera que deve ser-lhe apanágio. Os músicos, viscerais, portanto: Jeff Beck, guitarra; Rod Stewart, voz; Nicky Hopkins, piano; Ron Wood, baixo; e Tony Newman, bateria.
Amour, imagination, rêve -- Air. O acrónimo sintetiza o cerne deste duo de Versalhes, composto por Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel -- tão cosmopolita e simultaneamente tão francês. Um portento de melodia, um certo romantismo com uma boa carga de ironia. Deste 10 000 Hz Legend (2001), extraio isso mesmo que acabei de dizer com «Wonder Milky Bitch».
Álbum atípico de Louis Armstrong, já então uma pop star mundial, mas nem por isso menos grande tudo.
Acabo por escolher este tune dos anos 40, popularizado por Fats Domino.
O canto de Armstrong é sublime, em todos os aspectos, simultaneamente doce e divertido. O arranjo do coro é excepcional , tal como o entrosamento com os sopros. Em Hello, Dolly! (1964)
Há dias ouvi o José Cid dizer que Cantigas do Maio é o melhor disco de sempre da música portuguesa. Para mim, continua a ser o Por Este Rio Acima, do Fausto, mas este não pode deixar de estar nos lugares cimeiros. José Afonso, também para mim, o maior compositor da nossa música popular urbana. O seu legado já faz parte do cancioneiro português. Escolher uma música apenas é, portanto, tarefa muito difícil. A sublimidade deste «Maio Maduro Maio» é tal, que acabou por se me impor. E não só pela melodia caracteristicamente afonsina e a profundidade da letra, mas também e muito pelos geniais arranjos de José Mário Branco, o produtor deste disco a todos os títulos histórico (é o de «Grândola, Vila Morena») de 1971.
Do terceiro álbum a solo de Jon Anderson, esta faixa deliciosa, a mais prog e também a mais próxima dos Yes, de que ele foi fundador e histórico vocalista.
De Night In The Ruts (1979), um dos melhores, ou o melhor álbum dos Aerosmith, escolho esta versão, cujo original é dos Yardbirds (Jimmy Page é um dos autores e guitarrista).
O canto de Tyler está directamente proporcional à guitarra gemebunda de Perry, por sua vez à altura da de Page . Tem de ser-se muito bom para tocar assim. Os restantes, Hamilton, Kramer e Withford cumprem briosamente.
O riff é fantástico, o suporte sobre qual se derramam as distorções sensacionais de Perry & Tyler.
Neste caso, não é bem assim, pois o YouTube não dispõe de todas as músicas deste álbum de 1960 -- That's Right!, de Nat Adderley and the Big Sax Section.
Mas escolho, sem ambages, o standard da dupla Kern-Hammerstein, «The Folks Who Live On The Hill», com extraordinário arranjo de Jimmy Heath, que beleza! A trompete de Nat a divagar (lembra-me um desenho de Júlio), o barítono de Tate Houston a pontuar, o passeio de mãos dadas da guitarra de Jim Hall e da flauta de Yusef Lateef, que acaba por soltar-se ao segundo solo, enquanto os pratos de Jimmy Cobb lhe marcam o ritmo. A singeleza, no melhor sentido da palavra.